segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ELEMENTOS PRESENTES NA ESTRUTURA DO “BAILE” FLAMENCO - 1ª parte

Fonte: www.flamencobrasil.com.br - Por: Renata Chauviere

Introdução da “guitarra” – na qual já se pode reconhecer o ritmo que será tocado;
“Salida de cante”
Por “salida de cante” entende-se o princípio da música na qual o “cantaor” “templa” (significa: afina) sua voz no tom em que se executará o ritmo a ser dançado. Tal “temple” pode tomar forma de “Ayeos” ou “glosolalias” como os famosos “tirititranes” das alegrias ou “ayes” e “tiritiris” da “seguiriya”.
Após “templar”, o cantaor pode também utilizar como “salida” uma ou mais “letras” tradicionais do “palo” (ritmo) que se vá “bailar”. Hoje, neste momento de cante de preparação, muitos “bailaores” escolhem para inspirar-se, uma canção flamenca ou um tema de outra origem “aflamencados” (tango argentino, bolero ou outros).
 “Falsetas de guitarra”
Por “falseta” entende-se: tema do violão desenvolvido sobre a tonalidade tocada ou suas relativas e são usadas em diferentes momentos durante o baile, podendo servir também como introdução da “guitarra” acima mencionada. Podem ser dançadas somente com movimentos de corpo ou mesmo sapateadas.
Cabe aqui comentar sobre o “silêncio”, elemento bastante utilizado nas montagens de alegrias tradicionais, que são como um adágio da música clássica, tipicamente com duração de seis compassos lentos, normalmente em tonalidade menor, diferente do tom maior comum a maioria das “alegrías” e tipicamente encerrado com uma “castellana” que nada mais é do que o estribilho usado para finalizar letras de “alegrías” que, quando colocado após o silêncio, passa a chamar-se “castellana” numa referência aos “paseos de Castilla”.
“Letra”
Por letra entende-se a melodia de um verso cantada no ritmo da coreografia que se dança. A melodia somada ao tom da guitarra é o que define o ritmo, sendo que um mesmo ritmo tem em sua familia melodias diferentes: seguiriya de los puertosseguiriya gaditanasoleá de Alcalá, ou de Triana, entre outras, alegrías de Córdoba ou de Cadiz entre outras da familia das Cantiñas.
É importante observar que diferentemente da música ocidental, o conteúdo dramático do baile/ritmo não está somente em suas letras que, na maioria das vezes, principalmente nas mais tradicionais, são simples em sua rima e vocabulário. Tal conteúdo se encontra na origem do próprio “palo”. Tomemos por exemplo as “bulerías”: se estas são um ritmo reconhecidamente festeiro, com muitas letras de duplo sentido, assim como muitos “tangos”, o “cante mineiro” traz nele e em toda sua família (todos os “cantes” dele originados como os tarantos), toda a dor da perda e do sofrimento advindo do trabalho dos mineiros (origem deste cante), às vezes feridos ou mortos em decorrência de seu trabalho, originando “letras” que cantam tanto a pena do próprio trabalhador como de seus familiares. No “cante por seguiriyas” também se canta a perda e a dor, decorrentes da morte em sua maioria. O “cante por soleá” traz em si solenidade e profundidade da “jondura” (profundidade) flamenca e é considerado por alguns como um cante matriz ainda que não se possa comprovar historicamente qual teria sido o primeiro cante. Há também as “alegrías”, que já mencionamos. Elas são originárias da província de Cádiz e têm uma inspiração inicial nas “Jotas de Cadiz” e que falam de amor com mais leveza do que se falaria em uma “soleá”. Deve-se observar que o coreógrafo/”bailaor”/intérprete, ao escolher um “baile” como tema, precisa necessariamente conhecer a essência histórica do ritmo base a ser coreografado para construir sua história com propriedade.
Escolhido o tema/ritmo principal, que será a essência de sua coreografia, o “bailaor” vai construir a sua história regendo todos os elementos envolvidos na construção, mudando/transformando o sentimento inicial que motiva seu baile, levando o tema/ritmo/sentimento inicial a catarse final na conclusão de sua obra. Para levar o “baile” a este clímax, costuma-se trabalhar com mudanças rítmicas, fazendo com que o tema principal leve a outros, muitas vezes de andamento mais acelerado que o primeiro.



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