As primeiras aparições historicamente constatáveis desta música a situam nos espaços mais caracteristicamente marginais da sociedade espanhola daquele momento. Em tal sentido , os contextos literários são altamente reveladores: ambientes carcerários, a serra como "habitat" de bandoleiros, contrabandistas, o mundo marinheiro e a mendicância são constantes e presentes nesses cantes. O flamenco também fazia-se presente nos locais de trabalho e nas reuniôes familiares.
Os ciganos
Desde o primeiro momento em que aparecem notícias explícitas sobre esses cantes flamencos , um grupo étnico proporciona aos mesmos inúmeros protagonistas: os ciganos. Tal circunstâncias levou os cronistas da época a estabelecer, sem maiores precauções , a hegemonia da roça cigana sobre a música em questão. Na verdade, gente de outras etnias contribuíram, igualmente, para o desenvolvimento dessa manifestação popular e, assim junto com cantos e músicas originárias dos ciganos (cantes gitanos) foram acumuladas outras formas musicais procedentes de diversas zonas do folclore andaluz, até amalgamar um gênero novo, o chamado cante flamenco.
Esse gênero ganhou popularidade e se difundiu nos "Cafés Cantantes", tão em voga na época e onde, como é sabido, se materializavam em nível de consumo de música popular as produções surgidas em toda a Espanha e , juntamente com o canto, ganhou cenário o baile andaluz.
Cafés Cantantes |
Outras teorias sobre as origens do cante flamenco e suas diversas fases:
As primeiras referências documentadas sobre a existência do flamenco na forma de cante, e intérpretes especializados são encontrados no século XVIII. Há algumas hipóteses sobre as diversas influências no nascimento do cante flamenco, algumas mais relevantes que outras, a seguir:
Influência oriental: fenícios e cartagineses
Andaluzia Antiga: As bailaoras de Cadiz, citadas nos escritos de Juvenal e Marcial . estes autores relatam danças ritmicas, acompanhadas de "crótalos", um tipo de ancestral da castanhola e suas canções. Estes registros datam do séc. I a.C.
Influência grega: Especialmente os cânticos litúrgicos bizantinos (canto gregoriano), cujos aspectos melódico e escala utilizada também aparecem no flamenco. Continua....
Influência Hindu
Influência Árabe
O termo cante é uma denominação coletiva que abarca e diferencia um copioso número de canções dentro do grande conjunto dos cantares próprios do povo andaluz e que, como já amplamente sabido, aflorou no seio da família cigana como produto dessa etnia e do rico folclore andaluz. De fato, essa gente cigana , com notável faculdade para a arte do ritmo, encontrou nos campos e nos bairros populares onde se assentaram um rico e brilhante folclore de excepcional graça poética e , com sua genialidade de interpretação , absorveu com especial fervor as substâncias musicais desse esplendido cancioneiro popular, contribuindo com algo diferente , já que não novo, e de certo modo original: o cante, ou, se se quiser dizer com expressiva redundância, o cante flamenco.
Em nenhum outro lugar, ainda que forte a presença cigana, foi possível o aparecimento de algo parecido com o cante flamenco, donde se conclui que o "elemento andaluz" foi condição necessária para o aparecimento do cante, assim como o interesse e o gosto do povo e, ainda, a vitalidade e riqueza dos meios rural e urbano da região.
Estilos primitivos ou básicos
A denominação de primitivos ou básicos se justifica, posto que esses cantes deram origens a muitos outros de grande importância, ou bem deles receberam uma forte ou reconhecida influência. Os cantes dessa primeira época foram as tonás, martinetes, deblas, siguiryas (antes chamadas playeras), cañas, polos e corridas ,essas últimas hoje praticamente em desuso). Tais cantes , no entanto, por essa ocasião conservavam um caráter quase exclusivamente doméstico e somente ao alcance de um pequeno número de iniciados, nas casas ciganas a que tinham acesso. nos tablados, nas estalagens e festas íntimas, até que chegassem , com a sua difusão, aos Cafés Cantantes.
Nutrido por tantas e diversas culturas, faz por fim sua aparição nas formas que hoje conhecemos os cantes flamencos. Surgem os primeiros nomes de seus intérpretes e se tornam famosos, mas ainda não profissionalizados. Esses cantes a que chamamos primitivos eram então cantados a "palo seco", isto é, sem qualquer acompanhamento e portanto com acentuada carência de música instrumental, compensada por largos lamentos, bruscas paradas no cante e pela maestria do cantaor. Essas músicas , como já sabido, estavam relacionadas com as desolações e tragédias da vida cigana e da vida do povo em geral na época.
Os castigos penais, o cárcere, as condições dos presos , os trabalhos forçados, são um dos temas mais abundantes , junto com os acontecimentos de sangue, mortes violentas em disputas e acidentes fatais cantados pela voz do povo.
Todos estes cantes se revestiam de igual dramatismo, aos quais os intérpretes acrescentavam alguma variante de sua invenção para mostrar sua capacidade criativa, além da potência de sua voz. Como veremos, só mais tarde se incorpora ao cante o acompanhamento de guitarra.
As divisões dos cantes
Uma classificação muito usada inicialmente e estendida até hoje, se bem que amplamente contestada, é a que divide os bailes e principalmente os cantes flamencos em grandes e chicos, ou pequenos.Tal divisão, no entender de Fernando Quiñones, "è sumamente desafortunada, já que dá origem a uma série de más interpretações e erros que geram confusão e injustiça, já que o realmente grande ou chico é a arte de quem interpreta esses cantes ou bailes. Não cabe dúvida, de que o baile por alegrias, por exemplo, é muito mais difícil que seu cante correspondente ( talvez o baile mais difícil e importante de toda a coreografia flamenca). Por outro lado, parece evidente que um cante completo por siguiriyas ou por soleares são gêneros mais para escutar do que para bailar, por mais valioso e belo que possa ser o se baile. Mais, acima dessas considerações, o importante é que o amante do flamenco faça por si só suas distinções, prefer~encias e avaliações, sem deixar-se influenciar por regras puristas e ortodoxas, muito menos importantes que o desfrutar dessa magnífica arte".
Mais apropriado e pacificamente aceito pela quase totalidade dos estudiosos do flamenco é a divisão dos cantes em cante cigano e cante andaluz. Entende-se por canto cigano o conjunto de cantes desenvolvidos pelos ciganos, a partir do rico cancioneiro andaluz por eles encontrado, quando de sua entrada na região.Bem como aqueles para os quais foram mais inclinados, praticando-os com maior fervor e assiduidade, interpretando-os com mais estilo e emoção, muitos dos quais executados quase que unicamente por ciganos, nos albores de tais cantes. Já o cante andaluz se define como o conjunto de cantes surgidos com o "aflamencamento" de cantares populares de Andaluzia. A afluência desse cante ao conjunto de todo o cante flamenco ocorreu desde muito cedo, sendo a caña e o polo dos mais antigos, e já cantados em finais do século XVIII, época em que aparecem as primeiras notícias escritas sobre o flamenco.
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