Fonte: Livro "Palos Flamencos" - Pepe de Córdoba - Ed. Edicon
O baile, juntamente com o cante e a guitarra formam a trilogia e o suporte dessa arte tão emocional que é o flamenco.Dos componentes do flamenco talvez seja o baile aquele que mais carece de investigação e, portanto, com reduzidas fontes de informações históricas, uma matéria mais difícil e esquiva que o cante , cujas pesquisas e estudos aportaram uma série de conhecimentos e informações sobre ele, possibilitando um ponto de partida para o seu estudo e consequentemente, para o estabelecimento de uma "história" para cada um de seus cantes. No baile, falta este ponto de partida claro e seguro, como ocorre no cante. Seus dados são furtivos , escorregadios e incertos.
O baile não comporta, como no cante, a classificação clássica de jondo , pelo menos em seu sentido histórico, mas aceitável apenas em função de uma interpretação mais profunda. A melhor classificação que se lhe pode atribuir , segundo os estudiosos, é o de grande ou chico, segundo o palo objeto do baile.
O fato é que os bailes, em Espanha, proliferaram enormemente, mais que os cantes, fenômeno esse ocorrido, aliás, em quase toda parte e, como é lógico supor, sofrendo variações e evoluções na forma e conteúdo, até serem batizados com os nomes de circunstâncias e codificados, como hoje os conhecemos. Em razão da proliferação do baile, como dito acima, será bastante comum o iniciando encontrar nomes jamais mencionados nas academias , nos textos mais elementares, nomes como: tiranas, macarenas, boleros secos, olé, encorvada, encerrada, jaleos, bailes canasteros e muitos outros, já que são modalidades quase extinta ou em desuso, só exploradas esporadicamente por fontes de investigações.
O baile é objeto de uma série de classificações em categorias, tais como escola moderna ou de palillos, ou seja castanholas) , regionais , clássicas, bailes teatrais , mistas, jondo, flamenco, etc...É longa a lista e não vale a pena ater-se , no nosso caso, a essas diferenças acadêmicas, posto que pretendemos ser mais práticos e diretos, em razão do nosso escopo.
Uma classificação simples, objetiva, sugerida por Rossy, divide os bailes em individuais, coletivos e misto, entendendo Mario Penna: "Em definitivo, não creio que seja possível uma classificação exata; e se o fosse , resultaria ademais inútil, porque provavelmente não nos conduziria sequer a uma precisão suficientemente clara, como para colocar-nos em condição de dar uma solução medianamente satisfatória ao problema central do flamenco, que seria o da relação entre as contribuições ciganas e as folclóricas locais".
UM ATALHO DA HISTÓRIA DO BAILE
Por falta de fontes de informações sobre os múltiplos bailes surgidos em Andaluzia e que resultaram na vertente flamenco, tomemos um atalho para recordar um fato amplamente sabido: os judeus foram considerados, em Espanha e especilamente em El Andaluz, mestres do baile. Uma de suas mais habituais atividades, durante a convivência com muçulmanos e cristãos , foi o ensino da dança e ali no suldeixaram uma grande tradição nesse campo, que encontrando o ambiente propício e adequado, floresceu e prosperou, fazendo escola.
Muito tempo depois , proliferaram no ambiente andaluz as múltiplas academias de baile, servindo como exemplo as de Manuel de la Barrera e a de seu irmão Miguel de la Barrera, ambas no século XIX (por volta de 1840). Essa tendência não teve solução de continuidade e prosseguiu até os nossos dias, com expansão para outros centros importantes como Madri e Barcelona. Surgiu dessa verdadeira universidade , além dos muitos bailaores autodidatas, um número incalculável de de bailarinos flamencos, povoando os cenários de toda a Espanha com suas atuações cheias de emoção e arte. A lista de nomes importantes , que fizeram a história do baile é imensa , sendo desnecessária a citação desses personagens.
O baile flamenco , por sua natureza tem tudo a ver com as emoções desencadeadas por seu executor e, portanto , deixa um ampla liberdade a quem baila, o que enriquece sobremaneira a sua comunicação, estabelecendo uma corrente inevitável que atua entre ele e o público. Mas, apesar dessa "liberdade" que lhe é atribuída para criar , dessa necessidade interior instintiva que o empurra , não pode ele prencindir de uma direção inspirada, ou seja, uma série de normas e regras , academicamente aceitas, que fazem parte do próprio baile.
Se na execução do baile o bailarino goza de liberdade para atuar, isso significa que esta liberdade alcança também o acompanhamento da guitarra e isoo é fundamental para os bailaores , que utilizam na sua arte, acima de tudo, seu temperamento interior. Claro está que a guitarra marca o ritmo do palo em execução, mas tem também, por sua vez, a liberdade de luzir com seus falsetes, que tanto enriquecem a parte musical." o acompanhamento, no fundo, tem funções mais ornamentais do que de sustentação efetiva do baile flamenco..." O baile flamenco se sustenta pois, na espiritualização das formas plásticas do corpo humano em movimento, na sua misteriosa vibração e se descarrega na intensidade emotivado ritmo frenético do taconeo ou sapateado.
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